sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O Sul Islâmico

O Sul Islâmico

Os Reinos Taifa

Os Muçulmanos chamavam al-Garb al-Andalus (o ocidente de Andaluz) a todo o território para ocidente e noroeste do Guadiana, correspondendo aproximadamente à Lusitânia romana e visigoda. Aí existiam várias grandes e médias cidades, sedes de kura,onde se registaram, ao longo dos séculos, rebeliões importantes e por vezes duradouras.

A partir de século XI, a ruína e o desmembramento do califado de Córdova, que unificara e robustecera toda a Península Ibérica sob domínio islâmico, levaram à criação de vários reinos, chamados de taifa (bandeira), alguns com dinastias de quase um século. 


O governador da marca ou província militar de Mérida, Ibn al-Jilliqi, literalmente o «filho do galego» por pertencer a uma família de cristãos convertidos chefiou a primeira revolta importante, em 868, que autonomizou durante décadas grande parte do sudoeste peninsular, originando a dinastia de Ibn Marwan, com quatro gerações.

Rebeliões no Al-Andaluz

Houve outras rebeliões em Lisboa, Beja e Faro. O estabelecimento de feudos semiautónomos com sede em Mérida-Badajoz, Beja e Faro foram normais no Sudoeste da Península. Sucedeu o mesmo um pouco por toda a parte. A tendência para a desagregação em Al-Andaluz acompanhava a feudalização de quase toda a Europa. 

A partir de 1012 constituíram-se reinos de taifa em Huelva, Badajoz (dinastia dos Banu al-Aftas, com quatro monarcas), Sevilha (Banu ' Abbad, com três monarcas) Niebla (Banu Yahya, com três monarcas), Faro (Banu Harun, com dois monarcas), Mértola e Silves (Banu Muzayn, com dois monarcas). Todos eles abrangeram, durante algum tempo, o espaço «português». O mais importante foi o de Badajoz, que chegou a abarcar todo o Portugal de hoje a sul do Douro - com excepção da parte do Algarve -, além de territórios no vale do Guadiana, actualmente pertencentes a Espanha que durou desde 1022 até 1094.

O fraccionamento do Califado e as lutas, por vezes violentas, em que se envolveram muitos dos reinos de taifa,favoreceram os Cristãos e o progresso da Reconquista. Em meados do século XI, os avanços do rei de Leão e Castela,Fernando I, conquistando Coimbra e ameaçando o vale do Tejo, induziram o rei de Badajoz a pedir auxílio aos chamados Almorávidas. 

Os Almorávidas haviam erguido um imponente império no Norte de África. Sentiu-se a ameaça que representavam para a independência dos pequenos reinos de taifa. Mas os muçulmanos espanhóis não tinham outra escolha. Os Almorávidas desembarcaram na Península, repeliram de facto os Cristãos mas resolveram ficar e reunificá-la sob o seu jugo.

Invertendo alianças, o rei de Badajoz pediu ajuda aos Cristãos, abrindo-lhes as portas de Santarém e de Lisboa (1093). Em vão. O poder almorávida tomara-se forte de mais para que se lhe resistisse. Todo o al-Garb 1hes caiu nas mãos (1094-1095). Pouco depois, as duas referidas cidades eram recuperadas e a fronteira muçulmana atingia novamente a bacia do Mondego.

Os reinos de taifa não duraram o bastante para criar no Sudoeste da Península Ibérica um conjunto político unificado. Para mais, os seus laços com o resto da Espanha muçulmana mantiveram-se sem quebra, dentro dum sistema fácil de comunicações e de relações económicas desenvolvidas. Foram Estados que nunca se sentiram auto-suficientes nem isolados do resto do mundo. 

Os seus chefes jamais assumiram o título de califa, ou sequer o de rei, actuando sempre como representantes de uma autoridade suprema fictícia. Acentuaram-se, apesar de tudo, os localismos durante a sua existência. e tais localismos nunca tiveram força bastante para cristalizar em independência, ajudaram certamente a sacudir um jugo doravante havido por insuportável. 

Metidas nos seus pequenos interesses e oprimidas por um sistema militar cada dia mais pesado e rude, as parcelas locais do al-Garb tomaram-se as melhores aliadas dos cristãos na Reconquista. 

(Condensado da História de Portugal de A.H. de Oliveira Marques)


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